Arquivo: Edição de 29-05-2008
SECÇÃO: Cultura | |
Entrevista a Ana Romero Múltiplos OlharesEntre exposições individuais e colectivas, participou nas Bienais Internacionais de Vila Nova de Cerveira (2001); Santiago de Compostela (2005) e de Arte Contemporânea de Aveiro (2006). Em Junho expõe na Figueira da Foz, na Galeria O Rastro. Voz da Póvoa – Na construção de um percurso o exercício da pintura é fundamental? Ana Romero – Sem dúvida, mas eu fiz o processo ao contrário. Aos 16 anos, numa fase muito influenciada pelo Miró, já fazia exposições colectivas no Turismo. Olhando para trás percebo que estava ainda num processo de aprendizagem sem nada especialmente criativo para mostrar. Neste aspecto, a faculdade é importante. Obriga-nos a ter um método de trabalho em termos de projecto, a pensar as questões e fundamentar com base teórica o que pretendemos fazer. V.P. – Um quadro já concluído pode entrar num processo de desconstrução? A.R. – Não trabalho com ideias pré definidas. Vou fazendo, destruo e volto a fazer. O meu pai incutiu-me o conceito de não ter medo de começar tudo de novo. Nem de ficar agarrada ao que já se fiz bem feito, ou menos conseguido. Se tiver que ser, destruir tudo e voltar a fazer de novo. Comecei por trabalhar em telas de grandes dimensões. Agora estou a cortar retalhos, transformando aquilo que não me agradava em grandes escalas e buscar aqueles pormenores que ficaram mais bem conseguidos. V.P. – Como se processa e explora a técnica mista de colagem e pintura? A.R. – Uso muitas colagens de revistas típicas femininas, que graficamente são muito boas. Gosto de trabalhar conceitos de estereótipos femininos, o lugar da mulher na sociedade, esse tipo de temática. Actualmente estou muito ligada ao desenho, pintura e colagem. Gosto de jogar com algo que já existe. Apropriar-me e usar naquilo que me interessa. No fundo, é pegar naquela imagem, coloca-la noutro contexto e dar-lhe outro sentido. V.P. – Há alguma razão especial para este interesse pelo feminino? A.R. – É uma razão um pouco sociológica. A razão de achar que, nós mulheres, ainda temos muito que lutar em termos de igualdade. Mas sobretudo porque acho o feminino mais interessante e mais rico. Às vezes é preciso chegar mais alto para nivelar, isso ainda acontece na sociedade actual. Mas não é uma preocupação nem necessidade em ter que me impor ou afirmar. O essencial é fazer aquilo que gosto. V.P. – Tem por hábito fotografar os trabalhos que pinta? A.R. – Fotografo sempre as obras que partem. Depois trabalho ou adultero a imagem em fotoshop. Actualmente ando a fotografar todo o processo, o antes e o depois, e fico sempre com a memória de como cresceu. Podendo voltar atrás a um ponto que gostava, porque a memória também fala e falha. Chego a fotografar fragmentos da própria tela, bocadinhos que gostei muito, que poderão dar outro trabalho. V.P. – Quando é que tem a noção que uma obra está acabada? A.R. – Tenho sempre dificuldade em terminar um trabalho. Há sempre um certo grau de insatisfação, uma espécie de procura. Acho sempre que posso fazer melhor. Por isso é deixa-las ir porque senão nunca estão terminadas. Se as telas ficassem, daqui a seis meses ou um ano, deixavam de existir ou tinham ganho outra forma. O melhor mesmo é vender ou oferecer. Aí não há mudança possível e vivem pelo tempo fora. |
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